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coluna Café e Poesia

Aqui você ficará informado, com os mais diverso temas da atualidades.

 

Como foi o surgimento do Pentecostalismo

Fatos notáveis e pouco conhecidos sobre os primeiros anos do Movimento Pentecostal.

Por Christian History & Biography

Certa vez, a revista Time listou os cem maiores eventos do segundo milênio e colocou o Pentecostalismo em 68o lugar. O Dicionário do Cristianismo na América diz que o Pentecostalismo é “o desenvolvimento mais significativo do Cristianismo no século XX”.

Apesar de muitos considerarem o Reavivamento da Rua Azuza (1906) como o nascimento do Pentecostalismo moderno, o falar em línguas teve lugar em duas reuniões santas anteriores, uma em Topeka, Kansas, em 1901, e a outra em Cherokee County, Carolina do Norte, em 1896.

É difícil dizer qual é a denominação pentecostal mais antiga. A Igreja Santa Unida e a Igreja de Deus (ambas de Cleveland) apontam para raízes pré-pentecostais antes de 1886. a Igreja da Santidade Pentecostal, tem raízes pentecostais antes de 1879, e foi a primeira a adotar uma Confissão de Fé Pentecostal, em 1908.

Os primeiros pentecostais afirmam que o dom de línguas não foi primeiramente o ato de falar línguas celestiais (glossolalia), mas sim, outras línguas humanas (xenolalia). Qual o propósito? Um dos primeiros líderes,Charles Parhem, disse ,“eu senti por anos que nenhum missionário que saía aos campos estrangeiros podia pregar na língua dos nativos, e que se Deus sempre havia equipado seus ministros dessa forma [pela xenolalia], ele podia fazer isso hoje”. Apesar de algumas histórias sobre xenolalia existirem, elas não foram confirmadas.

Muitos dos primeiros pentecostais eram pacifistas. Quando a Primeira Guerra estourou, alguns pentecostais clamaram por um “grande conselho de paz”, onde eles poderiam expor sua oposição contra a guerra. Todas as grandes denominações pentecostais, em algum momento, adotaram uma resolução pacifista.

Os pentecostais têm sido tão rígidos quanto fundamentalistas quanto ao comportamento social. Além de acabar com vícios como o álcool, tabaco, e cinema, eles criticaram as gomas de mascar, os vestidos de manga curta, bebidas leves, e gravatas. No Brasil por muitos anos proibiram seus membros de ver televisão e as mulheres de se maquiarem.

Apesar disso, a maioria dos pentecostais vieram da classe trabalhadora, um movimento que cresceu entre os pobres e pessoas à margem da sociedade. Os primeiros pentecostais ensinaram uma “teologia dos pobres”, interpretando seu notável crescimento como um favor especial de Deus sobre os pobres.

A harmonia racial marcou os primeiros estágios do movimento: o Reavivamento da Rua Azuza foi liderado por um negro, William Seymour, e negros e brancos adoravam a Deus e compartilhavam a liderança da igreja. Como um historiador pentecostal observou: “A fronteira de cor foi lavada no sangue”.

Os pentecostais encontraram ocasião para argumentar e discordar entre si sobre quase todos os assuntos, desde a proibição da carne de porco até a doutrina da Trindade. O resultado: hoje, mundialmente, existem mais de 12 mil denominações pentecostais ou carismáticas.

Existiam muitas mulheres pastoras e pregadoras nos primeiros anos do movimento, e a pentecostal mais conhecida do século XX foi a evangelista Aimee Semple McPherson. Outra pregadora famosa foi Maria Woodworth-Etter, que certa vez argumentou, “este é o tempo para as mulheres deixarem suas luzes brilharem; para exporem seus talentos que foram travados pela ferrugem, e usá-los para a Glória de Deus”.

Para muitos pentecostais, línguas e curas têm sido recursos para grandes finalidades. Como um moderno líder pentecostal colocou,” apesar de todas as suas contradições, os pentecostais não gastam todo seu tempo falando em línguas, eles tem insistentemente tentado trazer pessoas a Cristo”.

A maior igreja pentecostal do mundo está na Coréia do Sul: a Igreja do Evangelho Pleno de Yoido, pastoreada por David Yongii Cho. A igreja tem mais de 800 mil membros. A Assembléia de Deus do Brasil, tem cerca de 15 milhões de adeptos, dividida em várias congregações, diferentemente da igreja coreana, que é concentrada em apenas um templo.

O Pentecostalismo se tornou o grupo cristão de crescimento mais rápido do mundo. Com aproximadamente meio bilhão de adeptos, ele é, depois do Catolicismo romano, a maior tradição cristã.

 

Uma linda mulher

"Pensava que ser bonita era algo inalcançável para uma mulher comum como eu."

Por Shea M. Gregory

Quando eu era uma menininha, pensava que agente ficava em uma fila no céu para requerer a nossa vida.


Imaginei um anjo grande com imponentes asas me dizendo: “você irá se tornar uma mulher. Muito bem, o que você gostaria de ter? Pernas bonitas? Fama? Dinheiro?

Inocentemente, respondi a ele, “se for possível, senhor, eu queria ter... uma personalidade peculiar”.  Então, sem tempo para reconsiderações – zap! – eu nasci e aqui estou.

Uma vez eu perguntei ao meu irmão se ele me achava bonita, ele me olhou por trás da partitura e disse para eu sair. “Darnell, é sério”. Então, comecei a choramingar. “Eu sou bonita?” A única forma de me tirar dali era me respondendo, ele tomou fôlego, olhou nos meus olhos e começou a tocar.
“Seu rosto está bem”, disse enfim. “Você tem uma personalidade única. Você está bem”.

“O que significa isso?”, minha voz cresceu. “O que você está dizendo, é que sou uma gorda que age como uma idiota?”.

“Não foi isso o que eu disse”, falou calmamente e voltou a tocar.

“Não é isso o que você disse? É exatamente isso o que você disse!”, aí eu cuspi nele. “Você disse que nenhum homem vai me querer porque eu sou feia e estúpida. Eu quero ver você jurar então!”

Bem, esta foi minha vida. Eu sempre lutei contra complexos de feiúra e inadequação. Minhas amigas tinham boa aparência, tinham belas pernas, e dentes bonitos. Elas me convidavam para a gente se reunir. Eu me reunia era na bandeja de fruta de Natal. Elas se tornaram rainhas de festa e líderes de torcida, enquanto eu me afundava cada vez mais, sonhando ser modelo, esperando acordar bonita.

Até que um dia conheci Jesus. Uma amiga tinha me convidado para ir à igreja. Enquanto eu cantava em coral com outras pessoas, fui tomada por um sentimento de culpa e indignidade. Como esse Deus sobre quem eu estava cantando podia amar uma gorda feia como eu? Mas durante o culto descobri que Deus verdadeiramente me amava – exatamente como eu sou.

Naquele dia aceitei o amor e o sacrifício de Deus por mim. Por várias vezes tive a certeza de que Ele me amava mais do que eu podia imaginar e que eu era bonita do modo que mais importava – por dentro.

Mas meus sentimentos negativos não desapareceram imediatamente. Às vezes, eles surgiam intensamente, mas eu lutava para expulsá-los, encontrava com as minhas amigas Diana e Leona para almoçar, por exemplo.

Eu tinha trinta e poucos anos, tendo minhas primeiras experiências sexuais, solteira, e doente. Aquele não foi um bom dia. Nós almoçamos num restaurante local e o tema da conversa logo mudou para homem.

“E então, como o Eugenio está?”, perguntou a Diana.

Leona gesticulou a mão. “Oh, por favor, não”, ela respondeu.

“Você não tem mais visto ele?”, perguntei.

“Garota, isso foi há duas semanas”, ela respondeu. “E não estávamos apaixonados, estávamos só nos conhecendo”.

“Oh”, dissemos Diana e eu juntas.

“Não, mesmo.”, enfatizou Leona, e começou a listar os homens que ela conheceu recentemente.

“O que eu queria saber é quando e onde você conheceu esses caras?”, perguntou Diane.

Leona olhou seriamente, como se não estivesse gostando daquilo ali.  Eu já estava na borda da minha cadeira, pronta para fazer algumas anotações. Na primeira oportunidade, eu corri pro banheiro e anotei tudo em um papel de banheiro. Ela pegou um pedaço do seu sanduíche e o comeu com concentração.

“Por favor , responda a pergunta”, pensei comigo.  Estava segurando minha respiração.  Meu pensamento pendia entre a resposta da Leona e o bife no prato. Ela demorou muito. Peguei e coloquei seu prato no outro lado da mesa. “Conta tudo!”, falei.

Leona se irritou como se eu estivesse querendo machucar seus sentimentos, até que ela virou seus olhos. Ela nunca teve aquele olhar antes. Era feio. Meu olhar exalava inveja. Isso expôs meu desespero e meu anseio, sentimentos que toda mulher cristã necessita para crescer. Eu já estava cansada de ser uma pessoa de hábitos estranhos. Eu queria um homem.

“Onde estão os homens? Como arranjar um?”, cochichei.

Leona lambeu os beiços, mas me mantive firme. Sem informação, sem sanduíche.

Eu venci.

“Vocês sabem como isso é”, ela disse, “você sai para a rua e um homem te convida para sair”.

“Hum”, respondi. Obviamente, eu morava no bairro errado. Olhei para Diane. Ela lembrou que estava de boca cheia e fechou.

“Vocês sabem como são essas coisas”, continuou Leona. “Hoje em dia você não pode sair andando por aí que um homem pára pra falar com você”.

“Não, Leona”, disse, “eu não sei como são essas coisas”.

“Ah, vocês sabem sim”, ela insistiu.

Eu reparei em Leona. Ela estava toda bonita da cabeça aos pés. Seus movimentos eram suaves e naturais, sua voz macia e sutil. Seu cabelo estava todo no lugar, e suas roupas caiam muito bem. Eu tentei lembrar a última vez que fui ao salão e pensei no sutiã velho que eu estava usando, preso com um alfinete. Achei muito inadequado.

“Os homens te chamam pra sair toda vez que anda na rua?” perguntei a Diane, enquanto voltávamos pra casa.

“Não”.

“Nem a mim. Você acha que eu deveria mudar de rua?”

Minha amiga me olhou com atenção. Aquele olhar me lembrou muito meu irmão.

Ao nos despedirmos, tive uma idéia. Isso me surgiu do nada, como uma vontade de comer chocolate. Eu corri para casa e entrei no quarto, me despi, e fiquei ali, nua na frente do espelho. Depois do choque inicial, eu examinei meu corpo por cada ângulo que se possa imaginar, procurando encontrar minha melhor parte.  “Se eu conseguir acentuar o que tenho de melhor, serei chamada para sair a todo tempo”, pensei comigo. Contudo, finalmente me vesti, prestando um favor à humanidade.

Com a auto-estima abalada, curvei minha cabeça e estava pronta para me jogar na cama em desespero, quando vi minha bíblia perto do travesseiro. Eu abri no Salmo 139, “por modo assombrosamente maravilhoso me formaste”, versículo 14.

“Eu sei Deus, mas...”, comecei a protestar. Depois, as palavras de 1 Samuel 16 me vieram à mente, “O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração”.

Fiquei pensativa por alguns momentos, depois, hesitante. Levantei e tornei a me reparar no espelho. “Bem Senhor”, eu disse olhando para o meu nem tão perfeito corpo, aquela ampla imagem, “a tua palavra diz que eu sou especial, então devo ser mesmo”. Fiz uma pequena oração de agradecimento e fui fazer a melhor coisa que poderia fazer naquele momento. Fui fazer compras.

Leona está casada agora. Ela diz que estava simplesmente andando na rua. “Vocês sabem como é o centro da cidade, você passa por uma loja e os rapazes saem, eles te chamam para sair; te chamam para casar. Então, um dia...”

Eu andei por aquela rua centenas de vezes e nenhum dono de loja ou balconista me perguntou alguma coisa, nem mesmo que horas eram. Foi difícil, mas acostumei o meu ser a encarar a realidade. Eles deviam estar ocupados com clientes quando eu passava por lá. Com certeza, eles nunca tinham lido 1 Samuel antes.

Perguntei ao meu irmão recentemente. “Darnell, eu sou bonita?”

Ele sorriu. “Você é uma pérola preciosa, uma linda e adorável mulher”, ele disse.

Você não tem idéia do quanto nós melhoramos nesses anos.

 

A origem das espécies segundo Agostinho

Para o bispo de Hipona, o relato bíblico da Criação expressa a potencialidade dinâmica da obra divina.

Por Alister McGrath

No ano que marca o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação de seu célebre livro A origem das espécies, muitos debates acerca da obra do naturalista britânico têm ganhado corpo. Para inúmeros estudiosos, o darwinismo, baseado na concepção da aleatoriedade do surgimento da vida e em sua capacidade de evoluir, eleva-se da categoria de simples teoria científica para uma verdadeira visão de mundo, forma de ver a realidade que exclui Deus permanentemente. Já outros reagem fortemente contra os apologistas do secularismo. O ateísmo, eles argumentam, tem usado teorias científicas como armas em sua guerra contra a religião. Eles também temem que as interpretações bíblicas estejam se adaptando às teorias científicas modernas. Certamente, dizem, a Criação narrada em Gênesis deve ser interpretada literalmente, como um relato histórico do que realmente aconteceu. Por outro lado, muitos evangélicos de hoje temem que os modernistas abandonem a longa tradição de uma exegese bíblica fiel. Eles dizem que a Igreja sempre tratou o relato da Criação como uma história clara do surgimento das coisas. Entre os dois extremos, a autoridade das Escrituras parece estar em jogo.

O aniversário de Darwin é um convite a olhar o assunto em perspectiva. Afinal de contas, desde que ele formulou suas teses após a épica viagem a bordo do navio Beagle, muita coisa mudou – no entanto, o evolucionismo continua sendo a tese mais universalmente aceita para explicar o surgimento da vida no planeta. E o relato bíblico da Criação, que durante séculos a fio embasou qualquer estudo acerca do tema, tem sido constantemente posto em xeque não apenas pela modernidade, mas por muitos estudiosos cristãos, que enxergam ali muito mais um compêndio religioso do que uma narrativa confiável. Na história da Igreja, o assunto sempre suscitou controvérsia, e a mera aceitação da literalidade bíblica em relação às origens sempre foi questionada. O teólogo, professor e bispo Agostinho de Hipona (354-430), embora tenha interpretado a Escritura mil anos antes da Revolução Científica, não tinha problemas em relação às controvérsias sobre as origens. O mais marcante em sua trajetória é que ele não comprometeu a interpretação bíblica para acomodá-la às teorias vigentes em seu tempo. Para Agostinho, o mais importante era deixar a Bíblia falar por si mesma.

Há pelo menos quatro pontos nos seus escritos em que tenta desenvolver um relato sistemático de como aquela passagem deve ser entendida – e cada um é sutilmente diferente um do outro. EmO significado literal de Gênesis, comentário escrito durante quatorze anos no início do século 5, Agostinho deixa clara sua crença de que Deus trouxe todas as coisas à existência em um só momento, ainda que a ordem criada não seja estática. Ou seja, o Criador teria dotado as criaturas com capacidade de desenvolvimento, como uma semente, cuja vida está contida em si, mas só se desenvolve e cresce no momento certo. Usando uma linguagem mais técnica, Agostinho incita seus leitores a pensar sobre a ordem criada como algo que contém casualidades divinas ocultas que só emergirão futuramente. É que até aquele momento o bispo não tinha noção de acaso ou de mudanças arbitrárias na obra divina. O desenvolvimento da Criação está sempre sujeito à soberana providência de Deus, que não apenas cria a semente, como direciona o tempo e o lugar do seu crescimento.

Agostinho argumenta que o primeiro relato sobre a Criação não pode ser interpretado isoladamente, mas deve ser entendido ao longo da segunda parte, descrita em Gênesis 2.4-25, e também por qualquer outra narração sobre o tema nas Escrituras. Por exemplo, ele sugere que o Salmo 33.6-9 – cujo resumo é “Pois ele falou, e tudo se fez” – menciona a origem instantânea do mundo através da palavra criadora de Deus, enquanto o texto de João 5.17 (onde Jesus diz “meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”) aponta que o Senhor ainda está agindo na Criação. Além disso, ele enfatiza que uma leitura detalhada dos primeiros textos bíblicos aponta que os seis dias da Criação não são períodos cronológicos delimitados, e sim, uma forma de categorizar o trabalho criador de Deus. Em síntese, Agostinho cria que o Senhor criou o mundo em um instante a partir de sua vontade, mas continua a moldá-lo, mesmo hoje em dia.

O bispo de Hipona estava preocupado de que os intérpretes estivessem fechados às novidades cientificas quando liam a Bíblia, fato que gerou conflitos mais de dez séculos depois, quando Copérnico desafiou a crença tradicional de que o Sol é que girava em torno da Terra, e não o contrário. O detalhe é que, em pleno século 16, a Igreja interpretou a teoria heliocêntrica como um desafio para a autoridade da Bíblia. Não era, com certeza, e constituiu-se em mais um desafio para que se interpretasse a Palavra de Deus de maneira mais ampla – uma interpretação com urgente e constante necessidade de revisão. Já no seu tempo, Agostinho preconizava que algumas passagens bíblicas estão abertas para diversas interpretações e não devem se casar com as predominantes teorias científicas.  Por outro lado, a Bíblia se torna prisioneira do que um dia foi considerado uma verdade cientifica: em assuntos tão obscuros e distantes da nossa visão, nós encontramos nas Sagradas Escrituras passagens que podem ter várias interpretações sem que a fé que um dia recebemos seja prejudicada.

Essa aproximação de Agostinho fez com que teólogos não caíssem numa visão pré-científica do mundo, e o ajudou a não se comprometer em face das pressões culturais, que eram enormes. Por exemplo, muitos pensadores contemporâneos consideraram incoerente a visão cristã sobre a criação ex nihilo (do nada). Cláudio Galeno, médico do então imperador romano Marco Aurélio, por exemplo, rejeitou isso como uma lógica e metafísica absurda. Agostinho argumenta também que o tempo faz parte da ordem criada. Ou seja, no seu entender Deus criou espaço e tempo juntos, e este último só existe dentro do universo criado. Para alguns, porém, a ideia de que o tempo tenha sido criado parece ridícula.

Novamente aqui, Agostinho se opõe à ideia de que a narrativa bíblica não pode ter interpretações alternativas. Assim, o tempo deve ser visto como uma das criaturas e servos de Deus; por outro lado, a infinidade é uma característica essencial da eternidade. Mas a esta altura surge uma dúvida essencial: então, o que Deus estava fazendo antes da criação do universo? Para o teólogo, o Senhor não trouxe a criação à existência num momento especifico, pois o tempo não existia antes da Criação. Interessante, pois é exatamente esse o estado da existência, o chamado Caos, que muitos cientistas defendem ter havido antes do hipotético Big Bang, a gigantesca explosão que, há mais de 13 bilhões de anos, teria dado origem ao universo.

Agostinho poderia até estar errado ao afirmar quer a Escritura ensina claramente que a Criação foi instantânea. Os evangélicos creem, apesar de tudo, na infalibilidade da Escritura, não na infalibilidade das interpretações. Como alguns nos lembram, o próprio Agostinho não era constante nas suas convicções acerca das origens. Outras posições certamente existem – por exemplo, a ideia de que os seis dias de Criação, mencionados no Gênesis, foram seis períodos de 24 horas, ou a tese de que eles representam, na verdade, seis extensos períodos, cada um deles com seus milhões de anos. Todavia, a posição de Agostinho nos obriga a refletir sobre essas questões, mesmo que achemos que ele estava errado – e aí está um dos motivos da relevância de seu legado.

Afinal de contas, quais são as implicações dessa antiga interpretação bíblica sobre as afirmações de Darwin? Primeiro, Agostinho não limita os atos de criação à Criação inicial. Deus ainda está, ele insiste, trabalhando com o mundo, direcionando seu continuo desenvolvimento e expandindo seu potencial. Para ele, há dois “momentos” na Criação: aquele primordial e um contínuo processo de direcionamento. Logo, a Criação não é um instante circunscrito ao passado remoto. O Senhor continua trabalhando no presente, ele escreve, sustentando e direcionando o sucessivo desabrochar das gerações. Esse duplo foco sobre a Criação permite ler Gênesis de uma forma que afirma que Deus criou todas as coisas do nada. Porém, isso também nos permite afirmar que o universo foi criado com a capacidade de evoluir, sob a soberana direção de Deus – dessa forma, o primeiro estágio da Criação não corresponde ao que vemos agora.

Para Agostinho, o Senhor criou um universo deliberadamente designado para se desenvolver e evoluir. E o plano para essa evolução não é arbitrário, mas programado na estrutura de tudo quanto foi criado. Os primeiros escritores cristãos tomaram nota de como o primeiro relato do Gênesis falava sobre a terra e a água dando origem à vida. Eles diziam que isso mostra como Deus dotou a ordem natural com a capacidade de gerar criaturas. Agostinho foi ainda mais longe: ele sustentava que Deus criou o mundo com uma série de poderes adormecidos, que são consumados em um certo momento, de acordo com a divina providência. Uma das evidências disso seria o texto de Gênesis 1.12, que sugere que a terra recebeu o poder de produzir vida por si mesma. A imagem da semente, ali mencionada, sugere que a Criação original contém em si mesma o potencial de fazer emergir todos os subsequentes tipos de vida. Isso não significa que Deus criou o mundo incompleto e imperfeito, como pretendia Darwin ao enfatizar a necessidade da evolução; esse processo de desenvolvimento, Agostinho declara, é governado por leis fundamentais, que revelam a vontade do Criador: “Deus estabeleceu leis fixas que governam a produção das espécies de seres, e os tira do esconderijo para serem vistos completamente”, diz em seu comentário.

Por outro lado, enquanto alguns podem entender a Criação como Deus inserindo novos tipos de plantas e animais num mundo já existente, Agostinho considera isso uma incoerência com o resto das Escrituras. Antes, o Senhor deve ser visto como o criador, naquele primeiro momento, da potencialidade de todas as coisas vivas que iriam surgir depois, incluindo a humanidade. Isso significa que o primeiro relato das Sagradas Escrituras descreve o instantâneo surgimento da matéria primitiva, incluindo os recursos para o desenvolvimento futuro. O segundo relato explora como essas possibilidades casuais surgiram e se desenvolveram na terra. Na visão agostiniana, esses dois relatos sobre a Criação revelam que Deus criou o mundo instantaneamente, enquanto imaginava que as outras espécies de vida iriam aparecer gradualmente durante os tempos.

Em posição diametralmente oposta à de Charles Darwin, Agostinho rejeitaria qualquer idéia do desenvolvimento do Universo como um processo aleatório e desprovido de leis. Por isso, ele teria se oposto à visão darwinista de variação casual, insistindo que a providência de Deus está profundamente envolvida no desenvolvimento da vida. O processo pode ser imprevisível; casual, nunca. Previsivelmente, Agostinho aproxima o texto da pressuposição cultural prevalente da fixação das espécies, e não viu nisso algo que desafiasse seu pensamento sobre esse assunto – apesar de a maneira com a qual ele critica as autoridades contemporâneas e de sua própria experiência sugerir que, pelo menos nesse assunto, ele estaria aberto a correções mediante a luz de descobertas cientificas.

O significado literal de Gênesis realmente nos ajuda a lidar com as questões levantadas por Darwin? Vamos deixar claro que a obra de Agostinho não responde esses questionamentos; todavia, nos ajuda a ver que o real problema não é a autoridade bíblica, mas sua interpretação. Além disso, ele oferece uma maneira clássica de pensamento que ilumina muitos debates ainda hoje, quase 1,6 mil anos após sua morte. Nesse assunto, Agostinho nem é liberal nem acomodado; mas totalmente bíblico, tanto no sentido quanto na intenção. Nós precisamos de paciência, generosidade e graça para refletir sobre essas grandes questões. E Agostinho pode nos ajudar a começar.

 

O ex-ateu Alister McGrath é professor de teologia histórica da Universidade de Oxford e pesquisador sênior do Harris Manchester College, no Reino Unido.  Possui doutorados em biofísica molecular e em teologia pela Universidade de Oxford.